Motoboys confirmam que Ovídio entregou pacote com a bomba entregue a Walmir Cunha
Em sessão do tribunal do Juri realizada nesta quinta-feira (30/08), o motoboy José Hélio confirmou que o policial federal aposentado Ovídio Rodrigues Chaveiro foi quem lhe entregou o pacote com a bomba que feriu e mutilou gravemente o advogado Walmir Oliveira da Cunha durante atentado ocorrido no dia15 de julho de 2016. Segundo as investigações feitas pela Polícia Civil e denuncia apresentada pelo Ministério Público, além de Ovídio, o seu irmão Valdinho Chaveiro também é acusado de ser mandante e co-autor do crime. Nesta última quinta-feira ocorreu o primeiro dia do júri popular do caso que teve ampla repercussão.
Outros dois motoboys, que trabalham no mesmo ponto de José Hélio no setor Jardim Guanabara, também confirmaram sem titubear que viram Ovídio entregar o pacote com explosivo ao motociclista, para ser levado ao escritório de Walmir Cunha, que por causa do atentado sofreu amputação de três dedos e parte da mão esquerda, fraturas expostas no pé, queimaduras de segundo grau nas pernas e teve o abdômen também atingido com estilhaços de bomba. “Eu vim aqui para contribuir com a Justiça e falar a verdade”, disse José Hélio, que em seu testemunho também contou que, dias depois de noticiado a explosão, ele procurou voluntariamente Polícia Civil para prestar esclarecimentos ao perceber que havia entregue o pacote.
Mais de dez testemunhas de acusação e defesa foram ouvidas, entre elas esteve o empresário Petrônio Reis, 33 anos, cliente de Walmir Cunha e parte em ação judicial a qual o advogado obteve sucesso, o que teria contrariando interesses dos acusados, e conforme a investigação da polícia civil, teria motivado o atentado com a vítima.
Um dos acusado, Valdinho Chaveiro, é avô materno da filha do empresário, que na ação em questão solicitava, inicialmente, a regulamentação de suas visitas à criança, porém, segundo Petrônio a família da mãe da menina ignorou uma decisão liminar favorável a ele e impedia que ele visse a filha. Diante da dificuldade, o pai decidiu recorrer judicialmente.
Em seu depoimento, que foi o primeiro e o mais longo do dia, Walmir Cunha lembra que era para ser uma causa tranquila, mas que acabou tomando dimensões que ele não esperava. “Era uma ação simples, tanto que em 20 dias já tínhamos a liminar. Mas a família ignorou a decisão judicial e um ano e dois meses depois da regulamentação das visitas, meu cliente não havia conseguido ver ainda a filha”, relembra Walmir Cunha.
A ação em que Walmir atuou como advogado de Petrônio durou de janeiro de 2013 e foi encerrado em dezembro de 2014, e acabou evoluindo a reversão da guarda para o pai, diante da constatação, via perícia judicial, que a criança estava sofrendo de isolamento e alienação parental. Durante o curso da ação, a Walmir conta que houve diversos episódios de inconformismo e intimidação por parte de Valdinho, Segundo o advogado, ele acompanhava todas as audiências. “seu comportamento chegou a intimidar advogadas da minha equipe e até a magistrada chegou a solicitar reforço policial em algumas situações”, contou.
O perfil ameaçador e violento de Valdinho foi confirmado por seu ex-gênro Petrônio. Ele contou em seu testemunho ao tribunal do júri que sofreu perseguições e acusações falsas pela família durante o processo. “Psicólogas que atuaram nas visitas assistidas também se intimidaram com insinuações de ameaças. Inclusive, várias desistiram do trabalho”, contou. “Ele é extremamente frio e a gente não sabia qual seria sua reação diante da situação”, completou.
Durante duas horas, Walmir narrou detalhes da ação da ação de reversão de guarda e as evidências que o levaram a ter convicção da autoria de Valdinho e Ovídio no crime. Segundo ele, uma delas foi constatar que, 13 dias após o atentado, eles entraram com pedido de revisão da guarda da criança, que estava com o pai.
“A bomba foi uma artimanha de retirar do jogo a defesa no processo e uma forma de intimidar meu cliente”, disse. Antes disso, em dezembro de 2015, Valdinho fez ameaças a ima advogada da equipe da vítima. “Eles encontrou por acaso na sede da Polícia Federal e disse que todos iriam pagar caro pelo o que fizeram”, contou Walmir.
Perfil ameaçador
Segundo o assistente de acusação e advogado de Walmir Cunha, o criminalista Tallys Jaime, durante toda a instrução do processo criminal do caso, ficou demonstrado e comprovado o perfil ameaçador dos acusados, apontado como mandante do crime. “As aprovas periciais e testemunhais que foram apresentadas aqui corroboram para esclarecer a verdadeira personalidade dos dois réus”.
Familiares da vítima acompanharam o julgamento, entre elas o pai de Walmir Cunha, Walmir Alves da Cunha que ao acompanhar o depoimento do filho emocionou bastante. “Esse epsódio contra meu filho deixou dois sentimentos muitos profundos. Primeiro o de um sofrimento muito grande, durante os dias que o acompanhei no hospital, de ver meu filho sofrendo dores horríveis, vendo ele todo queimado e mutilado. Outro sentimento muito grande foi de surpresa pelo fato de os acusados serem ex-membros da Polícia Federal, na época um ainda estava na ativa e o outro aposentado, uma instituição pela qual o Brasil tem hoje o maior respeito. Eles [policiais federais] estão no coração dos brasileiros como pessoas de bem que cuidam de nossa vida”.
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